sexta-feira, 5 de junho de 2009

E depois?


Não era crente, mas voltei a ser.

Mas isso faz sentido? Não sei. Talvez importe explicar.

Até aos meus doze anos rezei antes de dormir. Um "Pai Nosso que estais no Céu" rezei eu durante sei lá quanto tempo e senti-me bem. Quis crer que, desse modo, qualquer asneira que dissesse, qualquer lesão que infringisse ao jogador da equipa contrária, qualquer pastilha que roubasse da mercearia seria perdoada, eu iria para um "Céu", teria, obviamente, um fantástico pós-vida, encontraria a "paz", não teria que estudar para passar de ano e não teria receio da morte porque estava certo do que estava do lado de lá. Não teria preocupações e não teria contas a prestar a ninguém, porque eu ia estar num sítio onde tudo me era permitido. Porque eu me tinha portado bem!

Ora, está claro que a ideia que eu tinha da religião seria um pouco como a ideia que qualquer criança tem do Natal e do homem da coca-cola. Se nos portarmos bem durante o ano e não chatearmos os nossos parentes, iríamos ter aquilo que desejávamos.

Mas fui, e sou, instrumento de uma dada ideologia de uma dada classe dominante (como diria o outro) e de um certo laicismo que me fez mudar de entendimento, da mesma forma que crescendo fui tão grande quanto o homem da coca-cola. Se me tornei num céptico em relação à religião também me tornei no meu próprio Pai Natal.

Agora a minha religião é outra. Agora não preciso de pensar no próximo mas preciso, sim, de fazer mais que o próximo, para meu próprio proveito. Não importa que não tenha em conta o próximo desde que eu esteja primeiro. Hoje sigo por uma via que vai de encontro ao que no homem é natural mesmo que tendamos a dizer que não. A natureza maléfica do génio humano não é ultrapassável por meios sermões e hoje, tal como ontem, é o indivíduo no centro de si próprio que interessa, porque o atomismo social não é fruto do acaso e a individualização mais não leva a que o homem seja fruto de uma guerra fria que o coloca em confronto com outros eus.

A minha fé é portanto o sistema capitalista. A minha crença é na moeda. Os meus valores, que são meio, chocam num agridoce que é o fim. Porque a justiça é meritocracia, não podendo ser igualdade.

Em que acreditar? Nos valores que são meio, ou num fim que é pano de fundo enublado?

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